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sexta-feira, 2 de abril de 2010

O CRENTE E A POLÍTICA

O Governo Teocrático

O primeiro governante humano de um sistema politicamente organizado surgiu na Torre de Babel. De acordo com Gênesis 10:8-10, o primeiro líder político foi Nirode, o princípio do seu reino foi Babel. O pecado desse reino foi a ambição de dominar o mundo e dirigir o seu próprio destino, à parte de Deus, através da união política centralizada. Esse desígnio era fruto do orgulho e rebeldia contra Deus. Deus frustrou o propósito deles, multiplicando idiomas em seu meio, de tal maneira que não podiam comunicar-se entre si (Gn 11:7-8). Isso deu origem à diversidade de raças e idiomas no mundo. Nesse tempo, a raça humana, deixando Deus, voltou-se para a idolatria e a feitiçaria, vivendo na escravidão de Satanás.
Deus vendo a raça humana entregue ao domínio de Satanás decidiu separar um povo para Si – o povo hebreu. Israel era a nação eleita com o propósito de testemunhar o nome do Senhor para os demais povos. O Senhor seria com a nação de Israel para conquistar territórios e mostrar às demais nações a Sua lei e o Seu poder a fim de convertê-los. Assim sendo, o sistema idealizado por Deus para a nação de Israel era o governo teocrático. O próprio Deus seria o Rei da nação de Israel, Ele a governaria. O Senhor escolheria patriarcas, juízes e profetas e, através destes manifestava a Sua soberana vontade e os Seus estatutos. Deus governava através da orientação direta, da revelação especial, da Palavra escrita e por intermédio de dirigentes escolhidos e ungidos. Gideão entendia muito bem isto, pois se recusou a tornar-se rei em Israel ao afirmar que Deus é quem governava o povo “então os homens de Israel disseram a Gideão: domina sobre nós, tanto tu como teu filho e o filho do teu filho; porquanto nos livraste da mão dos midianitas. Porém Gideão lhes disse: sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós dominará; o Senhor sobre vós dominará” (Juízes 8:22-23). Gideão entendia o governo teocrático, ou seja, o povo não deveria ter um governante humano, mas Deus era quem deveria governar.
Em Dt 17:14, lemos: “quando entrares na terra que te dá o Senhor teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim”. Em Dt 28:36, lemos: “O Senhor te levará a ti e a teu rei, que tiveres posto sobre ti...”. Nesses versículos, vemos Moisés previu o dia em que Israel ficaria descontente com o governo direto de Deus, ou seja, Moisés previu o dia em que os israelitas diriam “não à teocracia”. Essa profecia se cumpriu em I Samuel 8:5 “constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós”. O povo chegou para Samuel e pediu um rei, um representante político, um governante político à semelhança das nações. Deus considerou o pedido dos israelitas como se eles o tivessem rejeitado como seu rei “e disse o Senhor a Samuel: ouve a voz do povo em tudo me tem rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (Samuel 8:7).
Os israelitas pediram um rei humano para que fossem como as outras nações, pondo, assim, sua missão de povo especial de Deus em xeque. O Senhor permitiu que Israel tivesse um rei, não que isso expressasse a Sua vontade, mas para discipliná-los e fazê-los ver o erro de seu pedido.
Quando Israel pediu um governo monárquico, seus reis passaram a assumir o cargo por sucessão hereditária e não mais pela escolha direta de Deus. Como conseqüência, surgiram reinados iníquos e imorais, abomináveis aos olhos de Deus. O primeiro rei que Israel teve foi Saul, um rei mau, e pelo seu governo Deus mostrou que a escolha que fizeram foi em desacordo com a Sua vontade.
Deus permitiu o estabelecimento de um rei e um governo monárquico em Israel por duas razões. Em primeiro lugar para evidenciar a necessidade do reino perfeito de Deus e assim prenunciar Jesus Cristo como o Rei dos reis, em segundo lugar, para ensinar ao seu povo que nenhum sistema de governo solucionará os problemas da nação, nem garantirá paz e segurança. Somente no reinado de Cristo é que reinará a perfeita justiça, e a perfeita paz, a felicidade será a porção de todos. Portanto, é estultícia espiritual dizer que precisamos de um governo teocrático para que os problemas da nação sejam resolvidos. Aliás, o que diz respeito a Israel como nação não pode ser aplicado à igreja, pois na atual dispensação, Israel como nação está desviada de Deus. O povo de Deus não é uma nação, é a igreja, são os crentes espalhados por todo o mundo.
Através da vinda do Senhor Jesus, estabeleceu-se uma nova dispensação e, consequentemente, uma nova visão com respeito à política, isto é, Jesus governa na igreja e não nos reinos políticos, “Ele é o cabeça do corpo, da igreja” (Colossenses 1:18). Somos servos do Reino espiritual de Cristo. Portanto, se estamos na terra na condição de peregrino e temos o Reino de Deus nos nossos corações, não devemos participar de reinos políticos. Vale salientar que o desejo dos israelitas de quererem um rei, um governante político, como as demais nações, é fruto de um coração rebelde. O próprio povo reconheceu sua rebeldia “e todo o povo disse a Samuel: roga pelos teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos um rei” (I Samuel 12:19). Portanto, aqueles que defendem que a igreja deve ter um representante político, estão na mesma condição de rebeldia. Os que querem um representante político argumentam: “os patriarcas, juízes e profetas eram governadores políticos”. Esse argumento é um engano. Os patriarcas, juízes e profetas não eram governadores nem dominadores políticos, pois todas as vezes que falaram ao povo não demonstravam autoridade de si mesmos, mas diziam ao povo: “Assim diz o Senhor”. Portanto, era desse modo que Deus governava o povo escolhido, os israelitas.

Ir. Marcos Pinheiro

O caso de José do Egito


Alguns que defendem o engajamento do crente na política dizem: “a história de José do Egito nos dá apoio para a participação dos reinos políticos deste mundo”. Para refutar esse argumento, basta lermos Gênesis 41: 40-41 que diz: “tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente ao trono eu serei maior que tu. Disse mais Faraó a José: vês, aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito”. Observe que José não se ofereceu para governar. José não disse a Faraó que estaria à disposição para administrar o Egito. Ele não se autocandidatou. Por ter José interpretado o sonho de Faraó, este o colocou na posição de governante. José foi colocado involuntariamente na posição governamental porque Faraó viu nele um homem que tinha o Espírito de Deus: “e disse Faraó a seus servos: acharíamos um varão como este, em que haja o Espírito de Deus?” (Gn 41:38). Hoje, as pessoas dizem: “votem em mim, pois tenho princípios cristãos, usarei isto nas minhas decisões políticas”. Ou seja, as pessoas lançam-se como “candidatos de Deus”. O desejo por uma posição parlamentar é expresso de modo muito claro, o que não ocorreu com José.
Uma verdade que temos que acatar é que a palavra “governador” em Gênesis 42:6 “José, pois, era governador daquela terra”, não pode ser entendida no sentido político de hoje. José não era o governador político do Egito, mas o administrador do trigo, do cereal. Ele era o gestor da fazenda do Egito. O salmo 105:21 confirma essa verdade “fê-lo senhor da casa, e governador de toda a sua fazenda”. Em Genesis 41:34 diz: “faça isso Faraó, e ponha governadores sobre a terra”. Nos versos 48, 49 e 56 do capítulo 41 de Gênesis, vemos José gerenciando, administrando o cereal de todo o Egito.
O governador político do Egito sempre foi Faraó, em hipótese alguma foi José. Em Gênesis 41:40, lemos “tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo; SOMENTE NO TRONO SEREI MAIOR QUE TU”. Ou seja, Faraó quis deixar bastante claro que ele era o governador político do Egito. Em Salmo 105:20, lemos: “mandou o rei e o fez soltar; o dominador dos povos o soltou”. Quem é esse rei? Quem esse rei soltou? Veja o que diz Gênesis 41:14: “então mandou Faraó chamar a José, e o fizeram sair logo do cárcere; e barbeou-se e mudou as suas roupas e apresentou-se a Faraó”. Logo, o rei de Salmo 105:20 é Faraó, o governador político do Egito que soltou José do cárcere.
Outra verdade que temos que abraçar é que Deus tinha um plano específico ao permitir que José fosse o administrador do trigo do Egito. Jacó e seus filhos habitavam na terra das peregrinações, a terra de Canaã: “e Jacó habitava na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã” (Gn 37:1). Deus fez com que viesse uma terrível seca sobre a terra. A fome prevalecia em todas as terras inclusive em Canaã, onde habitava Jacó e seus filhos “porquanto a fome prevaleceu em todas as terras” (Gn 41:57), “havia fome na terra de Canaã” (Gn 42:5). Essa situação calamitosa fez com que Jacó ordenasse que os seus dez filhos, irmãos de José, que moravam em Canaã descessem ao Egito para comprar trigo “disse mais Jacó: eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egito; descei até lá e comprai-nos trigo, para que vivamos e não morramos. Então desceram os dez irmãos de José, para comprarem trigo no Egito” (Gn 42:2-3).
O propósito de o Senhor permitir que a terrível seca se alastrasse sobre toda a terra, fazendo com que os irmãos de José descessem ao Egito, foi para que eles se quebrantassem e se arrependessem dos seus maus caminhos. Os irmãos de José eram maus e carnais (Gn 37:2); cheios de ódio (Gn 37:4); invejosos (Gn 37:11); mentirosos e homicidas (Gn 37:20). Eles habitavam fisicamente na terra de Canaã, a terra da promessa, porém, espiritualmente, estavam no Egito. Deus pôs José como administrador do Egito para ele mostrar a seus irmãos que quem governava os seus corações não era o Senhor Deus. José provou seus irmãos para ver como estavam seus corações (Gn 44:1-12). José percebeu que seus irmãos estavam humildes e quebrantados. Demonstraram mudança real de caráter. Assumiram a culpa pela iniqüidade que praticaram no passado. José, então, se deu a conhecer a seus irmãos. Nessa ocasião, José revelou a seus irmãos o propósito de tudo o que tinha acontecido “agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós. Deus me enviou diante da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra e para guardar-vos em vida por um grande livramento” (Gn 45:5-7). Note que Deus operou através de José, colocando-o como administrador do trigo do Egito por um propósito bem definido: preservação do povo do concerto do qual desencadearia o Cristo. Era necessário que os irmãos de José fossem para o Egito, pois lá aprenderiam através da vida de José, que aqueles que são submissos a Deus, são espirituais, santificados e praticantes da justiça. O Senhor permitiu a José ser o gestor da fazenda do Egito para quebrantar os corações de seus irmãos e mostrar-lhes que no meio de danos e injustiças deve-se ser perdoador. José não consumiu o amor de seu coração em sentimento vingativo e rancoroso, não se preocupou com as injustiças sofridas, mas olhou para frente e não para trás. Isso marcou o coração de seus irmãos, que mais tarde tornar-se-iam um povo nitidamente separado, dedicado exclusivamente a Deus, assumindo o seu papel no plano divino da redenção. Portanto, não podemos usar um propósito específico de Deus, José como administrador do trigo do Egito, e generalizá-lo, a fim de justificar o engajamento do crente na política desse mundo.

Ir. Marcos Pinheiro

O caso de Daniel, Sedraque, Mesaque e abede-Nego

Muitos crentes citam a história de Daniel para justificar suas candidaturas à política. Vejamos a seguir a interpretação correta sobre a vida de Daniel.
O rei Nabucodonosor compreendeu a importância do seu sonho e decidiu submeter a um teste os “sábios” da Babilônia. O rei mandou chamar os magos, os astrólogos, os encantadores e os caldeus para que eles lhe fizessem saber o sonho e a sua interpretação. Se não conseguissem decifrar o sonho, seriam mortos; porém, se os “sábios de Babilônia declarassem o sonho e a sua interpretação, receberiam de Nabucodonosor presentes, e dádivas, e grande honra “Se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo; se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim presentes, e dádivas, e grande honra” (Dn 2:5-6). Os “sábios” de Babilônia não conseguiram declarar o sonho do rei nem a sua interpretação. Nabucodonosor, enfurecido, decretou a matança de todos os “sábios” de Babilônia. O decreto de matança incluía também Daniel. Mas Daniel estava muito mais preocupado com a vida dos “sábios” de Babilônia do que com sua própria vida, pois Daniel conhecia a Deus, seu coração estava no Reino de Deus e os “sábios” de Babilônia estavam perdidos, pois o que eles praticavam era abominável aos olhos de Deus.
Daniel, decididamente, foi ter com o rei Nabucodonosor, e pediu tempo para interpretar o sonho; tempo para orar e para receber o auxílio do Deus Todo-Poderoso. Daniel faz saber o caso a Hananias, Misael e Azarias. Os quatros servos de Deus buscam o Senhor em oração intensa e Deus revela o sonho a Daniel, bem como a sua interpretação. O propósito de Daniel buscar ao Senhor para receber a revelação do sonho de Nabucodonosor foi para salvaguardar as vidas dos “sábios” de Babilônia, pois todos iam ser mortos por não darem resposta ao rei. Observe que Daniel não reivindicou nenhum mérito pessoal por revelar ao rei o sonho e sua interpretação. Daniel não tinha o desejo de governar, não tinha objetivo político, o seu coração estava no Reino de Deus. Daniel nunca almejou cargo político, isso se comprova em Daniel 5: 16-17: “eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretação e resolver dúvidas, agora, se puderes ler este escrito, e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e no reino serás o terceiro governante; então respondeu Daniel e disse na presença do rei: AS TUAS DÁDIVAS FIQUEM CONTIGO, E DÁ OS TEUS PRÉMIOS A OUTRO; CONTUDO LEREI AO REI O ESCRITO, E FAR-LHE-EI SABER A INTERPRETAÇÃO”. Note que quando Daniel se propôs a ler o escrito na parede do palácio do rei Belsazar, filho de Nabucodonosor, não fez com a intenção de obter poder político. Vê-se claramente que Daniel rejeitou o cargo que o rei lhe ofereceu.
O crente candidato à política faz cartazes, picha paredes, trabalha e trabalha e trabalha para ser eleito. Isso mostra o desejo de governar no mundo da política. Bem diferente de Daniel. Portanto, aquele que almeja participação nos governos humanos mostra o quanto está distante do santo Daniel. Se alguém deseja ser político, isso não é manifestação de Deus e sim do coração da própria pessoa.
Daniel depois de interpretar o sonho de Nabucodonosor, foi colocado para ser governador de toda a província de Babilônia “então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também o fez chefe dos governadores sobre todos os sábios de Babilônia” (Dn 2:48). Observe que Daniel foi colocado involuntariamente no cargo de governador. Deus tinha um propósito específico quando permitiu Daniel ser governador.
O povo de Israel que estava no cativeiro babilônico corria o risco de se misturar com os babilônios e perder sua identidade de povo de Deus. Os israelitas podiam adquirir os modos de vida dos babilônios. Então, Deus usa Daniel com autoridade de governador sobre o povo de Israel a fim de conservar os costumes e as tradições do povo de Deus. Agora, por que Daniel tinha que ter a autoridade de governador? O povo de Deus na época, como também as demais nações, só reconhecia autoridade política. Israel era, na época, uma nação politicamente organizada. Essa era uma posição desviada, pois não era a vontade de Deus. Mesmo assim, Deus permitiu que o povo de Israel tivesse governantes humanos e Ele mesmo constituiu alguns, embora esse fosse o desejo do coração desviado do povo. O povo não ouviria Daniel se ele não tivesse autoridade política. Como Israel era uma nação politicamente organizada o povo só reconhecia autoridade política e não reconhecia mais a autoridade divina. Tanto isso é verdade que as palavras dos profetas muitas vezes foram rejeitadas pelo povo, porque eram contrárias às autoridades políticas do povo. Portanto, no caso de Daniel, Deus tinha um propósito bem definido: usá-lo como líder político com autoridade de governador para guardar o povo de Israel da contaminação babilônica.
Alguns em defesa do engajamento político do crente dizem: “Sedraque, Mesaque e Abede-Nego, eram governantes políticos, por que não podemos ser?” Para refutarmos esse argumento basta lermos Daniel 3:12 “Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sedraque, Mesaque e Abede-Nego”. Note que Sedraque, Mesaque e Abede-Nego eram fiscais, ou seja, eles cuidavam das negociações comerciais da província de Babilônia, eram responsáveis pelas transações comerciais da Província. Eles eram empregados do rei, e não autoridade política. Eles foram tratados pelo rei Nabucodonosor, como súditos e não como quem tem autoridade política (Dn 3: 13- 21).
Finalmente, usar a história de Daniel, Sedraque, Mesaque e Abede-Nego para justificar o envolvimento do crente na política é ter uma visão tupiniquim dos planos de Deus. Vale salientar que Daniel passou incólume por vários governos, por fidelidade a Deus, e não por fidelidade partidária aos reis. Daniel enfrentou muitas perseguições e, já velho, foi lançado na cova dos leões por fidelidade a Deus, nunca por perseguição política. Não podemos esquecer que a função primária da igreja é proclamar o Santo Evangelho e chamar os homens ao arrependimento. Sua função nunca foi e nunca será o engajamento na política.

Ir. Marcos Pinheiro

O caso de José de Arimatéia


Alguns afirmam que no Novo Testamento temos um crente político: José de Arimatéia era senador. Portanto, por que o crente não pode concorrer a um cargo político?
Muitas histórias surgiram com respeito a José de Arimatéia, inclusive a de que ele teria evangelizado na Inglaterra. Sua riqueza seria proveniente de minas de estanho, que a família possuía na Inglaterra. Fala-se também que ele teria sido o portador do cálice da última santa ceia para a Gã-Bretanha, onde foi escondido e não encontrado. Entretanto, a história real que temos sobre José de Arimatéia está limitada aos registros bíblicos, que estão em: Mt 27:57-60; Mc 15:43-46; Lc 23:50-56 e Jo 19:38-42. Destes trechos extraímos que: ele era rico, seu nome era José e era procedente da região de Arimatéia (Mt 27:57); era membro do Sinédrio (Lc 23:50, Mc 15:43); era discípulo de Jesus e esperava o Reino de Deus (Mt 27:57, Mc 15:43, Lc 23:51, Jo 19:38); era um homem justo (Lc 23:50); não tinha concordado com a resolução do Sinédrio, que havia condenado a Jesus (Lc 23:51); temia os judeus e não declarava explicitamente que seguia os ensinamentos de Jesus (Jo 19:38); José de Arimatéia tinha trânsito livre com as autoridades, pois falou diretamente com Pilatos e conseguiu a guarda do corpo de Jesus (Mc 15:43, Mt 27:58, Jo 19:38); pessoalmente, Arimatéia manuseou o corpo de Jesus e o colocou no seu túmulo, que era novo, ele rolou a pedra que selou o túmulo (Mt 27:59-60, Lc 23:53, Mc 15: 45-46). Os registros bíblicos não nos permitem concluir definitivamente que José de Arimatéia fosse crente, um homem nascido de novo. É preciso lembrar que muitos seguiam Jesus, mas que poucos realmente entenderam quem ELE era. José de Arimatéia “esperava o Reino de Deus” na visão judaica, ou seja, a restauração do reino de Israel através de um Messias “os que estavam reunidos lhe perguntavam: Senhor será este o tempo em que restaures o reino a Israel” (Atos 1:6). José de Arimatéia era “bom e justo” no aspecto ético e moral. Mas isso não implica necessariamente que fosse salvo. Nicodemos também era correto, não corrupto e reconhecia, como José de Arimatéia, ter Jesus vindo de Deus, no entanto Jesus disse que Nicodemos precisava nascer de novo. Em Mt 27:57 diz que José de Arimatéia “era discípulo de Jesus” e em em Jo 19:38 diz que ele “era discípulo oculto”. A Bíblia diz em Mc 15:43 e Lc 23:51 que José de Arimatéia “esperava o Reino de Deus”. A palavra “discípulo”, em Mateus e João, tem uma conotação genérica que não implica necessariamente compromisso com Jesus. Jesus fez um discurso e muitos de seus discípulos o abandonaram e já não andavam com Ele ( Jo 6:66), ou seja, muitos seguiam Jesus mas não passaram pela experiência do novo nascimento, não entendiam realmente quem ELE era. Portanto, não há como querer justificar o engajamento do crente na política tomando como exemplo José de Arimatéia. Aliás, mesmo que José de Arimatéia tivesse nascido de novo, não há nenhuma garantia de que ele permaneceu como senador ou que tenha realizado campanha política para disputar o cargo.
Muitos candidatos evangélicos alegam: “votem em mim, porque é melhor ter um governante crente do que um ímpio no poder”. Esse raciocínio é contraproducente, pois entra em choque direto com a soberania de Deus. Deus é Senhor Soberano de tudo, e tudo o que acontece, acontece por Sua permissão. Em Romanos 13:1, a Bíblia diz “toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há, foram ordenadas por Deus”. Isto quer dizer que o governo civil, assim como tudo mais na vida, está sujeito à lei de Deus. O Senhor é quem ordena a autoridade civil. Jesus disse a Pilatos: “nenhum poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado” (Jo 19:11). Até a autoridade do ímpio vem de Deus. Toda autoridade é constituída por Deus, seja ele crente ou ímpio. E, na Sua Soberania, Deus pode usar até um ímpio para fazer uma justa administração. Deus está acima de tudo e pode fazer cumprir a Sua vontade por meio de homens maus quanto por intermédio de homens bons.
Alguns dizem: “a igreja precisa de representantes crentes no poder para defender a liberdade da pregação do Evangelho”. A igreja nunca precisou e nunca vai precisar de representantes no Congresso Nacional para realizar sua função. Os períodos em que mais a igreja cresceu em número e qualidade foram aqueles em que a igreja não tinha qualquer representante político. Foram nos períodos de perseguições que a igreja mais cresceu. Durante o início da igreja cristã, os crentes foram perseguidos ferozmente pelo império romano. Muitos foram torturados, outros mortos. As leis existentes não eram propícias à liberdade religiosa e mesmo assim a igreja cresceu tanto em quantidade como em qualidade. Durante muitos anos, no Brasil, a igreja evangélica não tinha representantes políticos e crescemos mesmo assim. A igreja nunca deixou de existir tendo liberdade ou não, e sempre vai existir, porque Deus é soberano, é o dono da obra e Sua obra vai avançar tendo liberdade ou não de pregar o Evangelho. Pensar que precisamos de representantes no Congresso Nacional é admitir, que não temos fé suficiente para crer na administração do Deus invisível, o grande EU SOU.
Aqueles que defendem a idéia de os crentes se engajarem na política dizem: “a igreja precisa de representantes evangélicos no poder para melhorar a condição do país”. Esse é um engano crasso. Querer atribuir a função da igreja a um parlamentar crente é desconhecer a missão da igreja de Cristo. A igreja tem de influenciar o Brasil e o mundo, e isto não se fará através de leis, mas através da genuína pregação do Evangelho. Querer fazer leis com princípios cristãos objetivando melhorar as condições morais e éticas do país é reconhecer a ineficácia da igreja e banalizar o poder do Evangelho. Em Atos 17:6, lemos “estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui”. A igreja primitiva transformou o mundo não pelo engajamento político, mas pregando Cristo crucificado e ressuscitado. Um homem temente a Deus não rouba, não mente, não mata, não adultera, não recebe propinas, ama ao próximo, é íntegro em suas relações comerciais, paga devidamente seus impostos, é submisso às autoridades constituídas. Isso somente é possível através de um encontro genuíno com Deus. A função de transformar homens ímpios e perdidos em homens tementes a Deus não é de parlamentar ou governante algum, mas sim da igreja. Não precisamos de um vereador evangélico para pregar o Evangelho, nem de um deputado, nem de um senador. Estado é Estado, igreja é igreja. O problema do mundo não é político, é pecado. Não será um político que trará a bem-aventurança, mas o colocar-se sob o controle de Cristo. A Bíblia diz: “feliz a nação cujo Deus é o Senhor” e não diz “feliz a nação cujo governante é crente”.

Ir. Marcos Pinheiro

Jesus, a igreja primitiva e a política

Na época em que o Senhor Jesus vivia na terra, havia grande agitação política. Na tensa situação, o sentimento nacionalista estava vivo e povo sonhava com uma coalizão povo-farizeu-saduceu contra Roma, a opressora dos povos. Em tais circunstâncias, não é de estranhar que o povo esperasse um posicionamento de Jesus no tocante àquela situação calamitosa, ou o seu apoio, quer ao partido nacional, com tendência patriótica e religiosa, quer ao oponente, o partido romano. Em Creta ocasião, representantes dos dois partidos trataram obter uma opinião política de Jesus, valendo-se de uma maliciosa pergunta: “é lícito pagar tributo a César ou não?” (Mt 22:17).Constatamos pela resposta de Jesus que Ele nada tinha a declarar a respeito da política da época. Mostrando-lhes a moeda destinada ao pagamento do tributo imperial, Jesus perguntou: “de quem é esta efígie e inscrição? responderam: “de César”. Jesus disse-lhes: “daí a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22: 20-21). Uma das atitudes importantes de Jesus foi sua imparcialidade política. Ele se recusou a tomar posição a respeito da questão política porque o Reino do Céu não se alcança através da força humana e nem é organizado como reino político. Para alguns, Jesus era um líder piegas e demasiadamente pietista em relação ao problema político. Para outros, Ele era um antipatriota, pois não incitava o povo a luta pela liberdade e a resistir à tirania. Para a grande maioria, Jesus era um alienado, pois só falava de amor ao próximo, enquanto o povo estava faminto, oprimido e sem liberdade política. Mas a verdade era que Jesus estava ratificando, de forma definitiva, a separação entre a igreja e o Estado.
Certa ocasião, Jesus teve uma oportunidade singular: comandar uma multidão entusiasmada e decidida a defender a independência da Galiléia, província do norte da Palestina. O povo estava tão eufórico com o poder do Senhor de Jesus, depois de vê-lo alimentar uma grande multidão com cinco pães e dois peixes que queriam proclamá-lo rei (Jo 6:15). Mas não foi com essa finalidade que Ele veio a esta terra. Jesus não desejava ser arrastado a semelhante movimento e por isso retirou-se sozinho para o monte. Ele não era homem de política. O seu desígnio era servir a Deus e salvar os homens. À oferta da glória política que o diabo ofereceu a Jesus quando lhe disse: “te darei todos os reinos do mundo” ( Lc 4: 6-7), Jesus replicou: “está escrito: ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” (Lc 4:8). Jesus recusou todos os reinos, porque sabia que há um só reino eterno, do qual Ele é Senhor, todos os demais reinos desaparecerão. Quando Jesus disse: “os pobres vós tendes sempre convosco” (Mt 26:11), não foi comodismo nem alienação de sua parte, pelo contrário, Ele estava apontando para a inevitabilidade da injustiça em qualquer sistema político. Só no Reino do Senhor não haverá pobres, pois todos serão “sacerdotes e reis” (I Pe 2:9).
No início do cristianismo, a escravidão era uma instituição bem estabelecida e de uma crueldade sem limites. Não era difícil imaginar que os crentes fossem chamados a empreender uma campanha pela abolição. No entanto não vemos na Bíblia Paulo e os apóstolos se pronunciarem contra os males da escravidão da época. Paulo e os apóstolos nunca encabeçaram movimentos contra a escravidão. A epístola de Filemom mostra-nos que os crentes da igreja primitiva não moveram um dedo para mudar a situação. Onésimo, escravo fugitivo, converteu-se por meio da pregação do apóstolo Paulo em Roma. Em vez de Paulo aproveitar a ocasião para combater o mal da escravidão, ele faz um apelo espiritual e insiste para que o escravo Onésimo, embora continuasse sendo escravo, fosse agora recebido como irmão, e irmão amado pelo seu amo Filemom (Filemom 10:16). É claro que não podemos ficar indiferentes a um governo opressor e cruel. Mas, lembremo-nos de que o recurso do crente é o próprio Deus, não a agitação, a propaganda política, as petições dirigidas ao Congresso ou a mobilização das massas. O recurso da igreja é entrar na presença de Deus em oração e jejum, depositar diante dEle o fardo que o mundo faz pesar sobre o nosso coração e depois sair para a proclamar as Boas Novas de Cristo aos homens. É importante observar que a escravidão findou no império romano com os crentes praticando o amor tanto ao capataz como ao escravo. A igreja deve se opor às injustiças sociais, não elegendo seus membros a cargos políticos, mas anunciando o Evangelho que é o poder de Deus que transforma aqueles que praticam injustiças.
No livro “On the Road to civilization, a world history”, o historiador J. Sigman relata: “o primitivo cristianismo foi pouco entendido e foi considerado com pouco favor pelos que governavam o mundo pagão; os cristãos não aceitavam ocupar cargos políticos”. O historiador Augusto Neander no seu livro “The history of the Christian religion and church during the first centuries, relata: “os cristãos se mantinham alheios e separados do Estado como raça sacerdotal e espiritual, e o cristianismo influenciava a vida civil apenas desse modo”. A verdade é que muitos líderes estão fazendo a igreja perder a visão para a qual foi chamada. Eles estão tentando a todo custo cristianizar a nossa nação ao modelo de Constantino. Esqueceram que o Senhor Jesus estabeleceu a igreja para salvar o mundo exclusivamente pela Palavra. É engano se pensar que, por meio da política, podemos aprimorar este mundo arruinado. Nunca poderemos produzir crentes pelas leis governamentais. Nunca poderemos cristianizar a sociedade. O homem está em pecado e, portanto, nunca teremos uma sociedade perfeita. Unicamente a vinda do Senhor Jesus irá produzir isso. Os que defendem o ingresso dos crentes na política dizem: “precisamos de crentes na política para angariar verbas para a igreja, do contrário, estaremos perdendo benefícios”. Este pensamento demonstra a falta de fé na providência divina para suprimento das necessidades da igreja. Para estes que pensam desse modo, Jeová Jiré está morto.

Ir. Marcos Pinheiro

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